VIVALDO PEREIRA DE ARAÚJO
Em 1º de janeiro de 1917, foi eleito para triênio 1917/1919, Vivaldo Pereira de Araújo, que empossou na mesma data. Cidadão muito evoluído, de princípios morais e religiosos muito elevados, abnegado, lutador pelas letras e a cultura do Município, foi o pioneiro na criação de Escolas Municipais rurais. Instituiu na sua administração uma modalidade para melhor ampliação do ensino primário na zona rural, uma espécie de convênio onde o proprietário dava o prédio para funcionar a escola e a hospedagem da professora. A prefeitura pagava o ordenado da professora. Assim foram criadas diversas escolas primárias na Zona Rural do Município.
Para criar uma escola, o proprietário só precisava dispor do prédio, fazer uma relação de quantos meninos tinha em idade escolar na circunvizinhança, levar à prefeitura e era criada a escola. Esta iniciativa de Vivaldo Pereira, na época, foi um grande passo para alfabetização da Zona Rural do Município.
A Construção do Mercado Público
Já havia em Currais Novos um pequeno mercado público, construído por João Alfredo de Albuquerque Pires Galvão, em 1900, mas já não suportava o movimento comercial de 1919. Então, Vivaldo Pereira resolveu construir um novo mercado. Aproveitou a parte construída por João Alfredo e aumentou na frente e nos fundos, construiu mais quatro pontos comerciais na frente e quatro nos fundos e fez a cobertura total onde funcionava toda a feira. Foi na época considerado o maior mercado público do Estado do Rio Grande do Norte. Era tão grande, que serviu a Currais Novos meio século, exatamente 50 anos. Foi demolido em 1979, para dar lugar à construção da praça cívica Desembargador Tomaz Salustino.
Vivaldo Pereira foi um homem de visão larga que viveu no seu tempo uma evolução pelo menos 50 anos do futuro. A sua casa na Avenida Coronel José Bezerra era a mais linda de Currais Novos. Deveria ter sido preservada para o Patrimônio Histórico Nacional. Foi demolida para dar lugar à construção do prédio do Banco do Brasil.
Foi ele também quem trouxe o primeiro arado para Currais Novos. Aliás, desse arado eu tenho uma história que me parece muito boa.
Foi em 1932, quando estava em pleno funcionamento a construção do açude Totoró. Não havia neste tempo facilidade de transportes automotores.
Então, em Currais Novos existia um homem que era um verdadeiro automotor movido a feijão, chamado Acelera Benedito. Ele não gostava do apelido, mas quando não chamavam Acelera Benedito, o chamava, Benedito Acelera. Esse homem era muito comedor, comia um carneiro de uma vez e tinha muita força.
Certa vez, levou um bilhar com bola e tudo de Acari para Parelhas para ganhar 10$000 (dez mil réis). Vivaldo Pereira contratou-o para levar o arado para a Fazenda Pai André, de sua propriedade, que hoje é conhecida por Trangola, mas o nome certo é Pai André. Acelera Benedito não conhecia direito o caminho da Fazenda, deu uma entrada errada na Cacimba das Ovelhas e foi sair na construção do açude Totoró, com aquele munduru na cabeça, arado com grade de discos e tudo.
Na construção, tinha cerca de cinco mil cossacos, a pior gente que se possa pensar para estas oportunidades. Acelera perguntou o caminho para a Fazenda de seu Vivaldo, os cossacos começaram a botá-lo a bestar. Uns diziam: “É para o lado sul”. Ele ia para o lado sul; outros: “É para o lado norte”. Benedito ia para o lado norte; Outros o interrompiam dizendo que a direção era ao nascente. Lá, ia Benedito para o nascente; outros diziam: “Não, Benedito, é para o poente”. E ainda tinha os gaiatos que diziam: “Acelera Benedito”. Aí ele corria estonteado, com aquele peso na cabeça pra cima e pra baixo.
Papai encontrou Benedito nesta agonia. O coitado já quase doido pra cima e pra baixo. Papai disse: - “Benedito, não preste atenção o que esse povo diz, pois eles só querem lhe atrapalhar”.
Chamou Benedito, levou-o para a nossa fazenda, lá foi preciso 6 homens para tirar aquele munduru de peso de sua cabeça. Depois que conseguiram descarregar Benedito, papai mandou preparar o almoço para ele, me lembro como se fosse agora: mamãe fez um alguidar de farofa de feijão macassar, um pedaço de carne assada, duas rapaduras do banio. Benedito comeu tudo, depois disse: - “Dona Chiquinha, num tem um cardinho de feijão?” Mamãe despejou a panela de caldo e ele bebeu tudo misturado com bastante farinha.
Depois do almoço papai juntou os homens, botaram o munduru de ferro na cabeça dele e ele foi embora.
Essa história não é da administração de Vivaldo Pereira na Prefeitura, mas, inclui neste capítulo apenas porque estava escrevendo sobre Vivaldo Pereira e me veio à lembrança, pois essa história aconteceu no fim de 1932 ou já no início de 1933. Vivaldo Pereira terminou o seu período administrativo na Intendência de Currais Novos em 31 de dezembro de 1919.
Vivaldo Pereira viveu toda sua vida em Currais Novos, criou a Cooperativa Banco Rural de Currais Novos, foi seu presidente durante muitos anos, participou ativamente da política durante toda sua vida, foi Vice-Prefeito com Dr. Sílvio Bezerra de Melo, presidiu o Legislativo muitas vezes, participou ativamente de todos os movimentos literários, jornais e revistas, de todos os movimentos religiosos, foi católico exemplar, deixou uma família numerosa, que consta no capítulo deste livro, famílias de Currais Novos.
Nasceu em 1º de janeiro de 1886, faleceu em 8 de agosto de 1955.
Comentários
Postar um comentário