Dr. JOSÉ CORTEZ PEREIRA DE ARAÚJO
(Currais Novos/RN, 17/10/1924 - Natal/RN, 21/02/2004). Agropecuarista, Filósofo, Professor, Advogado e Político. Foi Governador do Rio Grande do Norte de 1971 a 1975. Sendo, filho de Vivaldo Pereira Araújo e Olindina Cortez Pereira, estudou na Universidade Federal de Pernambuco. Eleito primeiro suplente do Senador Dinarte Mariz de Medeiros em 1962 pelo partido UDN. Filiado depois à ARENA. Filiado ao PTB e foi eleito prefeito de Serra do Mel no ano de 2000. Faleceu no exercício do mandato após prolongada internação em virtude de uma pneumonia. José Cortez Pereira de Araújo - Nossa pobreza não decorre das secas, nem da escassez de terras férteis, muito menos do clima. Ela se origina nas múltiplas atividades econômicas que formam nossa agricultura, inadequada às condições e circunstâncias do Nordeste. Nossas atividades agrícolas são contrárias à natureza, são anti-ecológicas, as chuvas irregulares, a alta temperatura, o excesso de luz tudo aqui cultiva culturas arbóreas, perenes e nós fazemos, no Nordeste, exatamente o contrário. -O Seridó é a maior demonstração do acerto contido na expressão que tenho repetido várias vezes: nós não temos fatores adversos e sim atividades adversárias dos fatores. Não há, em todo o Nordeste, uma região mais árida do que o Seridó (vértice de aridez 3.3), nem mais quente (até 60°nos afloramentos da rocha), nem com maior luminosidade (quase 3.000 horas/sol/ano), cujos solos sejam tão rasos, secos e erodidos e, no entanto, o nível de vida povo é muito superior ao das populações do fértil e chuvoso Maranhão. -Tudo começou, como começam sempre a história de todas as gentes, pelas atividades primárias, pelo que se faz o homem sobre a terra. Foi a atividade compatível com a natureza que ajudou o homem melhorar a sua vida.O Seridó começou com os currais, as fazendas de gado, as barragens submersas, as vazantes nos leitos dos rios, os açudes médios e pequenos. Guimarães Duque escreveu que era o seridoense quem sabia melhor aproveitar a pouca e irregular água que caía Nordeste. E foi assim que a pecuária se tornou suporte econômico e alimentar com carne, leite e queijo o homem do seridó. -O clima tornou saudável a pecuária do Seridó e a imaginação do homem criou os meios para se conviver coma seca. A outra grande atividade econômica da região não precisou, sequer, de ajuda, porque ela já era a própria natureza, no xerofilismo do algodão mocó. Cultura arbórea, perene, o nosso algodão casava com o clima seco para melhorara sua fibra longa. O solo semi-àrido era sua condição ótima para vegetar e produzir. Plantasse o algodão seridó nas terras férteis dos vales úmidos, que a rejeição o faria amarelar, amofinar, com saudade da terra seca, da quentura infernal do meio-dia e das noites sem orvalhos. -Nos sertões do Nordeste, em nenhum outro lugar, elevou-se tanto o nível social do povo, quando no Seridó. Um dos sintomas dessa realidade foi a liderança da Região em relação ao Estado, desde o primeiro Presidente da Província Tomás de Araújo Pereira. Para se sentir a força dessa influência, basta lembrar os nomes de Brito Guerra, José Bernardo, Juvenal Lamartine, Pe. João Maria, Dinarte Mariz e Monsenhor Walfredo Gurgel. -O nível social alcançado explica a projeção dos seus homens e ambos os fenômenos são explicados pelo desenvolvimento econômico da Região. Esse desenvolvimento econômico só foi possível porque as duas históricas atividades primárias, harmonisavam-se com a natureza, apoiavam-se nela. -Agora, outro aspecto interessante do assunto: o binômio algodão X boi se complementa, se integra e, assim, potencializam-se recíprocamente. Os campos de algodão, depois da colheita, viram cercados de solta e a praga remanescente é destruída pelo gado, que muito deixa nos roçados. Tem mais, a cultura do algodão produziu, também, a torta, ou simplesmente o caroço que era o rico alimento proteico dos meses secos e dos anos mais secos. O Seridó era uma harmonia de trabalho produtivo! Um outro fato econômico que ocorreu no velho Seridó, eu acho sensacional. Em nenhum outro lugar do Brasil, com a mesma intensidade, aconteceu coisa parecida. Foi como que um planejamento “espontâneo”, nascudo da intuição, que desenvolveu a atividade agrícola na complementação industrial, com a industria rudimentar situada na própria areada produção da matéria prima. Refiro-me aos descaroçadores de algodão, às tradicionais “bulandeiros” que se situavam nos sítios e nas fazendas, criando , naquele tempo, a agro-industria-rural, que os mais modernos planejadores do Terceiro Mundo apontam, hoje, como a grande solução de quase todos os nossos problemas. -A agro-indústria –rural integra os dois grandes setores de produção e transformação econômicas, com a grande vantagem de, situando-se no campo, permitir o natural êxodo agrícola, evitando o êxodo rural. Só assim, supera-se o grande, o imenso problema do alto custo social das cidades “inchadas”. Pois bem, tudo isso já existiu no Seridó do passado. Certa vez, em encontro de políticos importantes e até Ministros, eu destaquei esta originalidade genial, quando um deputado federal do Seridó, sem entender o sentido da coisa, condenou o fenômeno sob a crítica de que o meu pai teria sido – como foi – um desses agro-industriais... - Este pedaço do Brasil chamado Seridó, precisa um estudo sociológico profundo para se tentar conhecer as raízes da sua vida, do seu comportamento e reações. Contam que o primeiro, ou um dos primeiros açudes do Nordeste teria sido feito em Caicó. Um preto patriarca, responsável pelo grande feito, pedira ao missionário alemão que pregava missões na “Vila do Príncipe” para abençoar a novidade, o açude. Quando o frade viu que se tratava de contrariar a vontade de Deus que fizera os rios para devolver ao mar as águas que sobravam da terra, amaldiçoou o velho Terêncio (que se suicidou) e sua família, até a 3ª geração. Agora, a grande lição: desde então Caicó não deixou mais de fazer açudes e nenhum outro município do Nordeste tem mais açudes do que lá. -O Seridó tem projeção no Brasil, na época da guerra, pelo grande produção de tugstênio e outros minérios. Do sub-solo da Região tiram-se muitas matérias primas com as quais é feito o desenvolvimento dos países avançados: capacitores eletrônicos, turbinas de aviões a jato, naves espaciais, reatores nucleares, etc. -Agora mesmo é o ouro e o ferro que reaparecem na nossa pauta de produção, mostrando a riqueza diversificada do Seridó. - Uma vez, pelo menos, eu não fui bem entendido, quando responsabilizo o governo como o grande “vilão” na história sem lógica da pobreza do Nordeste. Digo que seca não é a nossa terra, mas a inteligência dos que nos governam. Isto desde a era colonial, quando os portugueses nos ensinaram a cultivar o que faziam na Europa e que não podia dar certo aqui, no Nordeste, que não tem nada parecido com Europa. E o pior, de lá para cá, os que nos governam não foram sensíveis a fazer uma reformulação de nossas atividades econômicas e, mais grave ainda, não souberam sequer conservar o que se fazia acertadamente, aqui. Exemplo: o algodão mocó. O “bicudo”, apenas deu o tiro de misericórdia. O velho algodão mocó começou a morrer quando o crédito oficial (o Governo) chegou por aqui, aplicando suas normas feitas para o algodão anual de S. Paulo e Paraná. O financiamento teria de ser pago no mesmo ano e o seridoense, para escapar, plantava entre as fileiras do algodão arbóreo o outro algodão anual, o “rasga letra”, que daria condição de pagamento anual, mas que foi hibridando, misturando-se geneticamente, até fazer desaparecer o patrimônio fantástico do velho algodão mocó. *José Cortez Pereira de Araújo foi político, professor e ex-governador do Rio Grande do Norte (1970-1974). Formou-se em filosofia e a seguir em Direito pela Universidade de Pernambuco. Eleito primeiro suplente do senador Dinarte Mariz Mariz pela UDN em 1962. Filiado depois à ARENA foi escolhido governador do Rio Grande do Norte pelo presidente Emílio Garrastazu Médici em 1970, tendo sido, assim, o primeiro governador “biônico” do estado em substituição ao então governador Walfredo Gurgel, inaugurando a nova fase política do RN. O governo de Cortez Pereira foi um dos mais criativos e progressistas do RN, com a criação de grandes projetos em vários setores da administração estadual, com destaque para os projetos de colonização de Serra do Mel e Boqueirão; Bicho da seda e outros.A idéia central de Cortez era dotar o Estado de pólos econômicos em áreas estratégicas do Estado, objetivando proporcionar ao homem do campo uma possibilidade de trabalhar a terra de forma livre e independente. Durante o governo de Cortez Pereira o Brasil vivia o momento do “grande milagre econômico”, implantado pela ideologia do regime ditatorial, que elevava o índice de aceitação da política econômica dos militares, bem como a popularidade do governo do RN. Porém, no final de seu mandato, sua popularidade caiu significativamente devido à participação excessiva de seus familiares no governo. Cortez Pereira governou o RN por 4 anos (1971-1975), tendo sido cassado seus direitos políticos pelo Ato Institucional nº 5. Particularmente, tive a grata satisfação de conviver com Cortez Pereira, apesar de pouco tempo e em algumas poucas oportunidades. No ano 2000, de forma mais direta, participei do curso de cooperativismo, ministrado por ele. Foi aí quando ouvi várias histórias de seu governo e outras tantas que fazia questão de nos contar nos intervalos do curso. Cortez foi uma figura estremamente afável. Vi em Cortez uma característica peculiar que raramente se ver em políticos. Era incapaz de falar mal de alguém. Não se via nele a maldade. Administrativamente, porém, sua visão idealizadora e futurista se contrapunha à liberdade excessiva que dava aos auxiliares. Aos 79 anos, Cortez Pereira morreu após ter realizado seu grande sonho: Ser Prefeito de Serra do Mel, sua vitrine maior como idealizador, como político de visão futurista. Cortez ainda é exemplo para muitos políticos, principalmente para os políticos do seu Estado, o Rio Grande do Norte.
Fonte: http://
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