SEBASTIÃO BEZERRA DA SILVA (1921/2008)
( Basto Soldado ) Nasceu Em Acari , Rn , No Dia 07/04/1921 . Foi Ex Combatente da Segunda Guerra Mundial Durante Os Anos de 1943 Há 1945 , Entrou Na Policia Miltar Em 1947 , Se Aposentou Em 1973 Com 25 Anos de Serviço Prestado A Segurança Publica da Cidade de Acari, Basto ,Faleceu Em Acari No Dia 28/12/2008 , E Não Viu A Decisão da Justiça de Reconhecelo Como , Segundo Tenente. = Foto e Biografia de Seu Filho , Ademi Bezerra Falar de Basto Soldado para mim é uma honra e um prazer enorme. Primeiro pela estima que tenho por sua filha mais nova, Vick, colega dos tempos de menor aprendiz no Banco do Brasil, parceira de dança nos primeiros bailes, amiga e muitas vezes confidente daquele menino que fui um dia. Segundo porque o meu sentimento em relação a seu Basto sempre foi a da sua analogia como meu tio-avô; assim como meus tios Tonho, Manoelzinho e Zeca Marques; visto que ele era primo carnal do meu avô Chiquinho, a quem tinha de verdade como irmão. Seu Basto é um daqueles homens raros, providos de esperteza bondosa, mansidão e domínio próprio. Trabalhador nato! Desde os oito anos, quando começou na lida tangendo jumentos, até se aposentar em 1974 como terceiro sargento da Polícia Militar do nosso estado; passou ainda menino pela construção da ponte da Rajada e já adolescente pela estrada de Junco da Paraíba; ainda foi padeiro em Carnaúba dos Dantas e servente de pedreiro em Natal. Na polícia mesmo, entrou como voluntário para participar na II Guerra, formando-se em 1945, traz até hoje o desgosto de não poder ter servido ao seu país oficialmente reconhecido pelo exército, confessou-me um dia, pois noticiaram o fim da guerra justamente quando havia sido chamado para embarcar. Depois de ser transferido para Caicó em 1948, veio destacar em Acari, de onde nunca mais saiu; senão por três semanas para Pau dos Ferros, dezessete dias em Jardim do Seridó e dois meses em Carnaúba, sempre por motivo de transferência política. Mas nada que D. Mônica, que lhe tinha muito afeto, não pudesse resolver com a ajuda de seu Baé, tio de dona Mariquinha. Em 1950 casou-se com dona Mariquinha, mulher simples, mas de uma inteligência e memória privilegiada, a quem por mais de uma vez pedi socorro nessas minhas buscas sobre o passado. Tiveram treze filhos, criaram oito e recentemente perderam mais um numa fatalidade, meu amigo Zezinho. Para sustentar a numerosa família, seu Basto usava da incansável força de vontade para o trabalho e uma sagacidade incrível! Então, nos dias de folga da farda, era pintor de paredes, trocava as lâmpadas das torres da matriz e, nos dias de feira, é necessário tal registro, sempre rifava um corte de tecido, uma arma, ou outro objeto qualquer. As pessoas assinavam mesmo sabendo que jamais seriam o sorteado; afinal, o sortudo sempre foi alguém desconhecido e de uma comunidade bem diferente daquela de quem lhe procurava para saber do ganhador. Sobre essa perspicácia dele, seu Patrício Torres me contou das abordagens de Basto aos cidadãos, dentro da bodega de seu Elói: “Rapaz, você tem uma faca aí. Isso não pode, não!” Dizia cochichando. Ora, num tempo em que quase todo mundo andava com uma faca na cintura... “Mas me dê um charutinho aí, e saia de mansinho”. No final do dia, em charutos, tinha facilmente o leite dos meninos para a semana. Bastava vendê-los de volta ao bodegueiro. E papai, que acompanhou essas artimanhas servindo na bodega de tio Manoelzinho, conta que o tal corte de tecido ficou nas rifas por mais de dois anos, de onde só saiu para ser uma calça para o próprio Basto. Mas falar de Basto Soldado e não contar umas histórias do tempo em que ele servia à polícia militar, é como ir à Roma e não vê o Papa, como diz o velho adágio. Sem saber, já no seu tempo Basto agia dentro das normas atuais. Como da vez em que um homem foi preso e o delegado ordenou aos quatro soldados que o surrassem. Seu Basto, mesmo sob a ameaça de ser denunciado ao comandante por essa falta, permaneceu convicto em sua posição e não bateu no preso. Hoje sabemos que não cabe ao policial julgar e condenar o preso. De outra feita, preso dois homens que roubavam peixes num açude particular, foram os peixes apreendidos doados pelo fazendeiro e divididos entre o delegado e seus subordinados. A parte que lhe coube, foi preparada pela mulher do carcereiro e seu Basto, cabo de dia naquela data, sorrateiramente levou aos presos, contra as ordens recebidas que ambos deveriam ficar com fome e sede por um dia. Com seu jeito hábil e amistoso, cheio de paciência e amabilidade, conseguia sempre persuadir aquele que recebia sua ordem de prisão até o quartel. Nunca usou da força ou da intimidação de uma arma de fogo. Mas certo dia o delegado deu-lhe ordens de ir buscar um homem tido com bravo que, quando tomava umas lapadas a mais, se excedia no tom da voz e nas ações contra alguns cidadãos. Chegando à casa desse, pôde ouvir a voz da mulher dele recriminado-o: “Tá vendo, bichinho? Seu Basto tá vindo lhe prender”. Seu Basto chegou à porta, cumprimentou a mulher com um bom dia, perguntou-lhe pelo esposo e recebeu dessa a informação que o mesmo havia saído para cortar lenha. Aí, seu Basto pediu água e, enquanto a mulher foi buscar, ele viu os dois pés do homem, que era grande em seu físico por natureza, saindo de debaixo da cama. Voltou para a cadeia com a mensagem que havia recebido da mulher, ao que o delegado rebateu dizendo que não importava, aonde o homem fosse visto deveria ser preso. Seu Basto não se lembrou da ordem depois e o delegado, por sua vez, esqueceu-se de lembrar-lhe. Sem querer, seu Basto não efetuou uma prisão de correção, ilegal nos dias de hoje. Quando era sabedor de alguma desordem pela rua, Basto ia à cadeia comunicar ao delegado. Havendo contingente para acompanhá-lo, seguia e realizava as prisões. Se a ocasião era para ir só, passava antes em casa para tomar um cafezinho que, invariavelmente, fazia-lhe chegar atrasado ao local do delito. Numa noite de circo, pôs tanto menino de graça no espetáculo, dizendo-se pai de todos, que ouviu o porteiro dizer que já tinha rodado o Brasil inteiro, mas jamais havia visto um soldado pai de tantos filhos e que ele deveria receber como coronel, para poder sustentá-los todos. Aposentado, gostava de passar o tempo jogando sinuca. Às vezes no Bar de Eliseu, ou mesmo lá em Zé Mandu, tinha uma maneira ímpar de anunciar a bola: “Setilha na caçapa”, jogava a bola preta para o buraco. “Cinquilha na caçapa”, a bola azul seguia para o mesmo fim. E assim, acrescentando sempre o ilha como sufixo aos nomes de cada bola, seguia brincando com quem lhe era adversário no jogo. Mas um dia, após ser derrotado por alguém que gritou a plenos pulmões “tempilha pra Bastilha”, passou alguns dias sem pegar no taco. Essa semana passada, descendo pela Rua da Matriz, encontrei-me com ele subindo pelas calçadas do lado leste. O passo já está curto, as costas meio encurvadas, a expressão vinha séria... Mas a satisfação de cumprimentar um amigo ainda está presente nos olhos miúdos. “Oi, seu Basto”, falei de longe. Respondeu-me levantando a mão direita e sorrindo. De uma prosa gostosa e alegre, contador de anedotas como poucos, o seu jeito de encerrar uma narrativa com a expressão “cabra”, quando engrossa mais a voz e demora-se na pronúncia da primeira letra “a” da palavra, é única! E sentar em sua calçada é um momento de raro prazer compartilhado por um grupo seleto de amigos. Feliz sempre! O soldado mais brabo que Acari já teve, como ele mesmo se define entre sorrisos e no orgulho de não possuir inimigos, serve de exemplo por sua integridade, moral e jeito simples de viver. Não só para a família, mas para todos que podem ouvir de sua boca seus ensinamentos sob parábolas em histórias engraçadas vividas por ele mesmo. E nós, ficamos na torcida que a estrela Basto Soldado, demore muito a chegar em seu ocaso, e que possa continuar assim, por muito mais tempo, um broche vivo enfeitando a farda dos ares do Acari do meu amor.
Texto de Joselito Jesus de Araújo
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