ANACREONTE PEREIRA DE ARAÚJO

 






 Conviveu em nosso meio até quando o Criador resolveu chamá-lo para o seu convívio, uma vez que sua missão aqui na Terra já tinha sido cumprida: tarefas de um homem simples e puro que viveu entre a fantasia e a realidade, cujo papel ele desempenhou como figurante típico do folclore do município. Da minha infância se filtram lembranças de um Anacreonte que divagava pelas ruas da cidade sempre apressado e fazendo apologia ao caminhão Ford 29 e aos esturros de indignação, acompanhados de palavras afrontosas às mães de quem lhe insultava com um purrute, abro parêntese: palavra que significa no linguajar nordestino encher a boca de ar e deixa escapar comprimido pelos lábios, fecho parêntese.

Eram naturais suas respostas...

Mais tarde, se tornou um eremita de periferia por opção, talvez por cautela pessoal, se resguardando do humor negro dos insultadores impiedosos. Foi longe do convívio social, que de algum modo, exercitou seu cérebro à admoestação da memória, culminando às recordações pormenorizadas dos fatos que ele ouviu e participou efetivamente como um cidadão especial entre nós, especificamente, datas casuais ou com efeito de algumas ações que se passaram no passado longínquo. Em vida, Anacreonte participou de uma das páginas da nossa história, fazendo parte da Antropologia Cultural da cidade, que Câmara Cascudo definiu como “cultura do geral no homem, da tradição e do milênio na atualidade, do heróico no cotidiano”. Cada um de nós nasce com uma missão específica na Terra e, sendo assim, Deus dotou a criatura Anacreonte de uma programação especial, lhe dando à extraordinária capacidade de memorizar os impulsos recebidos através do cabedal instintivo e, que ele mesmo usava sem meios termos, tanto os sins como os nãos. Sabemos que desde os nossos primeiros dias de vida, ficam armazenadas em nossos cérebros, todas as impressões sensoriais como também, as ações voluntárias e involuntárias que conseguimos captar. Desde então, esses dados são armazenados e processados um a um, em arquivos específicos no cérebro. Assim, desde bebê, ainda no berço, já recebemos por via dos receptores o calor, o frio, a umidade, a secura, o odor, a cor preta, a cor branca e o colorido que fascina toda criança. Mais tarde, se recebe as impressões específicas, dirigidas pelos pais, os mestres e os religiosos que nos falam: você pode fazer isso, não pode fazer aquilo; isto está certo, aquilo está errado e assim por diante. Então chega o dia quando o indivíduo combina seus aprendizados em atitudes e age por vontade própria, com base nos dados recebidos e que se foram acumulando dias após dias, anos após anos. Entremeios, alguns se deparam com o mundo de ideias concretas, ou ainda, um mundo dos elfos imaginários. De um lado o racional, do outro o irracional. Em suas narrativas alegóricas, Cristo se dirigindo aos fariseus, nos deixou para interpretarmos a parábola do homem rico exibicionista e do mendigo Lázaro. Contudo, o teor dessa lição usual depende do nosso entendimento, do nosso convívio social e de nossa interação com as demais espécies de vidas aqui na Terra, haja vista, que é aqui na Terra onde são lançadas as primeiras bases sobre as quais será construída a ponte que nos conduz ao Mundo Paralelo e, para que se tenha um bom acolhimento do outro lado da ponte, terá que se submeterem a uma avaliação pelas ações habituais e pela maneira de como se portou nos relacionamentos interpessoais com TODOS. Não, não só com aqueles que para nós são os mais queridos, não somente com aqueles bem sucedidos na vida, mais também, com aqueles que para muitos são intoleráveis, “os excepcionais” que por excelência são carentes de vida e dignidade. Jesus deu ênfase à discussão de um cenário real que o homem procura saber desde os primórdios da inteligência humana. Para onde vamos depois da morte. Só Deus sabe, mas nós podemos ter uma idéia. Depende do que nós colocamos em prática aqui na Terra. Na parábola de Jesus, o pobre depois da morte ganhou o seio de Abraão no Paraíso e não foi só porque era carente, mas pelas circunstâncias em que viveu e pela pureza do coração, assim como foram às atitudes destituídas de segundas intenções como as de Anacreonte.


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