MANOEL PEREIRA DA SILVA (1931/2017)

 

 


nasceu e faleceu no município do Acari na Fazenda Saco dos Pereira. 'Manoel Vermelho' era filho de AGOSTINHO CASSIANO PEREIRA e de ANA SANTANA PEREIRA. Toda a sua vida foi na fazenda acima mencionada, localizada no município do Acari/RN, sob o céu de seus antepassados. Repassador de inúmeras histórias, preservando os contos da tradição oral. Criador, vaqueiro  não dispensava a conversa no alpendre quase sempre regado ao jogo de sueca que é um jogo de cartas bastante popular em Portugal, no Brasil e em Angola. É um jogo de vazas para 4 pessoas. São 120 pontos em disputa e ganha a dupla que fizer mais de 60 pontos. "Bandeira" é o nome que se dá para a derrota em que a dupla derrotada não consegue fazer um ponto sequer. E pé no bucho é quando o perdendo roda quatro rodadas sem interromper a sequencia de vitória da dupla opositora. Se a regra oficial é assim, não temos certeza, contudo era o que era repassado nas regras do lugarejo. 


Em oportuno registro, recordamos o Padre João Medeiros Filho, cujas relevantes reflexões enriquecem o debate sobre a história, a cultura e a herança holandesa na região do Seridó. Em sua análise dessa notável herança, o Padre Medeiros evoca a influência neerlandesa na cultura, na antropologia e na economia seridoense. Ele menciona, por exemplo, a produção do queijo, que, segundo suas pesquisas, teve sua primazia no Brasil datada de 1596, atribuída justamente aos holandeses.

 

Rememora também os delicados bordados da cidade de Maria de Lourdes, confeccionados por um grupo de mulheres que, em colaboração, preservam técnicas tradicionais de origem flamenga. Para o erudito Padre João Medeiros, esses bordados primorosos não apenas adornam o cotidiano, mas também desafiam a aridez dos longos períodos de estiagem.

 

Dessa influência seminal, emerge igualmente a presença de vocábulos do idioma holandês no léxico local. A influência do holandês no português falado no Nordeste, particularmente no Seridó e em suas circunvizinhanças, remonta ao período da ocupação neerlandesa no Brasil (1630–1654). A palavra “já”, de uso frequente, ilustra essa influência de maneira perspicaz, existindo tanto em português quanto em holandês com significados análogos.

 

Em holandês, “já” pode também assumir o papel de confirmação, equivalendo a “sim”. Convém, portanto, explorar algumas possíveis palavras de origem ou influência holandesa que se incorporaram ao português falado no Nordeste – muitas vezes por vias indiretas, através da interação com flamengos ou soldados holandeses:

·         Moleque – ‘Moloch’ (termo pejorativo): Alguns estudiosos aventam a hipótese de que a palavra possa ter sido reforçada por um termo holandês depreciativo referente a criança ou indivíduo escravizado, embora a etimologia exata permaneça um tema de debate.

·         Bexiga (como xingamento) – ‘Bescheten’ (sujo de fezes): A utilização da expressão “bexiga” como imprecação ou insulto pode estar relacionada ao termo holandês de desprezo.

·         Farofa – ‘Veroff’: Embora se vislumbre uma possível conexão com métodos de preparo holandeses, a etimologia desta palavra ainda é objeto de estudo por linguistas.

·         Tora (como em "tora de madeira") – ‘Toren’ (torre) ou ‘door’ (porta): Apesar de "tora" ter sua raiz no latim turris, seu uso específico pode ter sofrido influência do vocabulário técnico holandês no âmbito da construção.

·         Alfenim – Alfenid/Alfena (tipo de doce europeu): Este doce típico nordestino recebeu influxos da tradição açucareira europeia, incluindo a dos Países Baixos.

·         Encarnado (vermelho vivo): Se o uso de "encarnado" remeter ao sentido regional/nordestino de "vermelho", há um equivalente em holandês. Um senhor conhecido como Manoel Vermelho, indivíduo alto, corpulento, de fala serena e olhar perspicaz, frequentemente empregava tal vocabulário, bem como outras palavras incomuns, a exemplo de ‘aprecatas’, que possivelmente seria uma corruptela de "alpercatas", utilizada em diversas regiões do Brasil (inclusive no Nordeste) para designar um tipo de sandália ou calçado rústico. Ele possuía olhos azuis e uma tez tão rósea que, exposta ao sol, adquiria uma tonalidade avermelhada. Seu sobrenome era ‘Pereira’, mas ele demonstrava relutância em revelar sua verdadeira origem, apesar de nascer na zona rural seridoense.

A maior parte do léxico holandês não perdurou diretamente no português do Brasil devido à brevidade do domínio holandês e à subsequente e vigorosa reafirmação da cultura luso-brasileira. A influência mais evidente manifesta-se em antropônimos e topônimos, como Recife, cujo nome deriva do holandês e alude às fortificações, a exemplo do Forte das Cinco Pontas.


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