Dr. MANOEL BRANDÃO DE ARAÚJO (1905/1992)
Nasceu na cidade de Currais Novos/RN. Formado em Medicina no Rio de Janeiro, migrou para Jardim do Seridó/RN por volta de 1932 para exercer sua profissão. Isolado da população, residia à rua Cel. Felinto Elísio, nº 78. Imóvel de sua propriedade, sem deixar herdeiros. Consta que adotou comportamento eremita anteve-se afastado do convívio social até o fim de sua vida. Só saía para viajar (de madrugada, longe dos olhares do povo) para Recife/PE ou Rio de Janeiro/RJ. Cortava o cabelo por lá. Vivia sempre de terno preto sobre uma camisa branca de mangas compridas, deixando à mostra os punhos. Só aparecia à janela ou na área quando precisava de alguma coisa, alimento principalmente. Ficava olhando quem passava até aparecer alguém que lhe inspirasse confiança (era muito desconfiado), geralmente meninotes. Mas antes perguntava quem era sua família e só depois, caso se agradasse, fazia o pedido. Antes de sair, mandava que lavasse as mãos com álcool, alegando que o mundo estava cheio de micróbios e bactérias. Enquanto podia medicar, vivia das consultas que cobrava. Bom médico conhecido por sua competência profissional, era sempre procurado por pacientes que já não encontravam soluções para os seus males. Para serem atendidas por ele, as pessoas esperavam às vezes o dia inteiro. Não que ele tivesse uma agenda lotada, pelo contrário, eram poucas as pessoas que o procuravam, mas porque era raro o dia que estava disposto a atender alguém, e a pessoa passava todo o resto do dia batendo nas portas e nas janelas, implorando para ser atendida. Quando abria a porta, mandava o paciente entrar e o atendia na primeira sala de onde o paciente não passava. Ninguém tinha acesso ao resto da casa depois de ouvir o paciente, mandava-o aguardar e se retirava para o interior da casa por alguns instantes, de onde voltava com a receita pronta. O efeito milagroso do remédio medicado, somado a demora no interior da casa e ao mistério que ele preservava, levou a população a imaginar que ele trabalhava com espíritos e que eram eles que receitavam os medicamentos. Criou-se assim um mito que, se Dr. Brandão não curasse é porque não havia cura. Outros mitos foram criados: falava-se na cidade que ele tinha comprado um carro e mandado lacrar a porta da garagem para que ninguém o visse quando viajava. Fazia-o de táxi e sempre altas horas da noite ou madrugada para não ser visto. As raras pessoas em quem confiava não passavam da sala de fora e mantinha restrições. Deus, somente Deus foi testemunha ocular de suas mágoas, de suas dores, angústias e dos seus sofrimentos que não devem ter sido poucos. No dia 02 do mesmo mês, foi sepultado em Currais Novos, no túmulo dos seus pais. Nas paredes amarrotadas pelos anos, prescrições médicas copiadas para os mais diversos tipos de doenças, contendo os sintomas das mesmas, os medicamentos e as orientações aos pacientes. Anos se vão desde que Dr. Brandão se foi. Pouco resta ali de Dr. Brandão; seu escritório médico foi doado ao Museu Histórico de Jarim do Seridó/RN por Ildete Gomes, tendo sido totalmente restaurado pela ex-prefeita Maria José Lira de Medeiros. De resto ficou somente a sua lembrança, uma lembrança boa que nos faz imaginar as raras vezes que ele tirava as travas de madeira das portas e a esperança de muitos de que naquela casa, em algum canto exista uma botija que mais cedo ou mais tarde alguém irá recebê-la.
Fonte com algumas alterações: SILVA, Mílvia Araújo da (org.). História e Lendas de Nossa Terra. Jardim do Seridó/RN: SHM Informática, 2001. 83
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