Bel. MAURÍLIO PINTO DE MEDEIROS
Secretário de segurança pública do Estado do Rio Grande do Norte, aposentou em 2011, preferia ficar em casa, curtindo os filhos, netos e bisnetos. Sempre estava lendo alguma coisa em seu escritório, recebendo amigos e se atualizando nos fatos cotidianos. Nunca deixou de ajudar a quem lhe pedisse ajuda. Na primeira pauta, o impacto: Aquilo poderia ser uma caixa de assistência social, um confessionário, menos o gabinete do homem mais poderoso da polícia do Rio Grande do Norte. Conta-se, por baixo, umas 40 pessoas para se aconselhar, dedurar vizinhos, homens que produziam filho e sumiam deixando a barriga da mãe e a despesa para a família. Uma bagunça. Todos falando alto e ao mesmo tempo. Galinhas cacarejavam. Galos de campina em gaiolas, numa tristeza infinita. Todos para entrega ao delegado Maurílio Pinto de Medeiros, chefe da Polícia Civil, Polinter e, de verdade, o Secretário de Segurança Pública de sempre. Todos os mimos eram recusados. Um gordo, o homem, de palavras medidas e visão periférica na miudeza dos olhos. De conjunto bege inconfundível. Calça e camisa de tecido. Uma mesa larga, juiz de paz que acalmava os valentões domésticos. Foram meus primeiros dias de contato com Maurílio Pinto de Medeiros. Colega de turma do pai de Rubens Lemos no velho Atheneu. Maurílio Pinto formado em jornalismo ainda na Faculdade Eloy de Souza, Fundação José Augusto, ali, nas alamedas que ainda existiam no Tirol aprazível. Fonte, boa fonte, me disse Rubão. Que tinha todos os motivos para odiar policiais. Mas não se deixava contaminar pelo fel dos rancores. Sofrera na carne a barbárie da repressão. Com Maurílio Pinto, amizade e irmandade. “Não vá imaginando que terá privilégios por ser meu filho. Maurílio é pago para desconfiar. Mas é honesto. Se há um atestado que posso dar é o de lisura e Maurílio é um liso, vive de salário,” recitava outro campeoníssimo em falta de convivência com dinheiro. Boa fonte, bons tempos. Jornal impresso trazia nas manchetes o berro da notícia em sangue quente. Pura, sem exclamação, mas com narrativa e densidade. Crimes poucos, mas bárbaros. O assassinato de um médico e uma enfermeira, que namoravam, foram seviciados e queimados onde hoje erguem-se fábricas no bairro de Neópolis, sinalizava: Natal deixava de ser uma província. E o homem silencioso rastreando pistas, desvendando assassinatos, conhecendo criminosos pelos métodos, pelo instinto, talento e herança do pai, Coronel Bento, o Caçador de Bandidos na era passada dos pistoleiros de cangaço. Maurílio Pinto virou lenda. Menino danado em rua parava ao grito da mãe impotente: “Se aquieta Tonzinho, que eu vou chamar Dr. Maurílio para lhe ajeitar”. Da ameaça, o resultado vinha na transição ao comportamento angelical. Assalto a banco. Avenida Rio Branco. Bandidos cariocas levam o dinheiro do caixa e fogem de ônibus. Comemoram tomando banho de piscina num hotel da Ladeira do Sol. O recepcionista desconfiou. No automático, ligou para Dr. Maurílio. Que prendeu todo mundo com um revólver 38 na mão, cena posta na capa dos matutinos da época. Maurílio Pinto, se tinha competência e tino, pecava por falta de vaidade. Foi maltratado, congelado numa delegacia sem função prática e incomodava. Maurílio, polícia por vocação, não por pretensão de estabilidade. Homenageado na Assembleia Legislativa e na Câmara Municipal anos atrás , acolhido pelo companheirismo de Dona Clarissa, o terror de criminosos aparentava o sofrimento das sequelas de uma trombose. Maurílio Pinto fazia o mal tremer nas bases. Nunca prendeu franciscano nem pai de família inocente. Se fosse o que dizem seus inimigos, teria se dado bem na política. Candidato a deputado estadual, ficou entre os 20 suplentes. Arruinado e sem apoio dos companheiros de ideologia e dos que lhe sepultariam depois. Maurílio não esquecera dele do genitor de Rubens Lemos. Natal, sem alvissareiros, poetas em cada esquina, cada vez mais impessoal. Paz nas estrelas, Xerife. Fonte: Rubens Lemos Filho. O delegado seguramente ficará como a maior referência da Polícia Civil do Rio Grande do Norte. Quando era criança sonhava em ser aviador e chegou a servir Força Aérea Brasileira, mas logo cedo estava na luta contra a bandidagem, onde começou sua carreira policial em 1964, como motorista do seu pai, o acariense Bento Manoel de Medeiros, coronel da Polícia Militar. Passou no vestibular de jornalismo em 1971, onde se formou em 1975, mas nunca atuou atrás das câmeras e microfones, só diante destes instrumentos onde realizou milhares de entrevistas ao longo de sua carreira. Dentre as diversas funções que exerceu, destaca-se a de subsecretário e secretário adjunto de Segurança Pública do Estado. Após participar de um curso no estado do Texas, Estados Unidos, Maurílio Pinto recebeu o título de Xerife e por este nome passou a ser chamado pelos colegas de trabalho e pela imprensa especializada. Maurilio dedicou 47 anos à Polícia Civil, onde deixa para seus pares e para a sociedade potiguar uma memória e um legado sempre marcado pelo êxito no seu trabalho de investigar e elucidar crimes diversos, desde assassinatos a sequestros. Comandou a Delegacia Especializada em Capturas e Polinter (DECAP) e também coordenou a Central de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Norte.Participou de ações que ficaram célebres na imprensa potiguar, levando à prisão, inúmeros criminosos de alta periculosidade. Como, por exemplo, em 1982, nas investigações do assassinato do médico Ovídio Fernandes, que movimentou intensamente a crônica policial potiguar. No ano seguinte atuou intensamente nas prisões de pistoleiros do “Sindicato do Crime”, na região entre as cidades de São Miguel (RN) e Pereiro (CE), cujo comando foi atribuído ao fazendeiro Mardônio Diógenes.Inclusive em 2011 declarou aos jornalistas Thyago Macedo e Sérgio Costa que em sua opinião o criminoso mais perigoso que atuou no Rio Grande do Norte foi o pistoleiro cearense chamado Edmar Nunes Leitão, conhecido por “Antônio Letreiro”, ou “Tonho do Letreiro”, que tinha esse apelido porque atirava tão bem que diziam que ele escrevia o nome à bala. Além dele, Maurílio Pinto afirmou aos dois jornalistas que o pistoleiro Idelfonso Maia Cunha, o “Mainha”, oriundo da região Oeste do Estado, era igualmente perigoso. Diziam que a esse último tinham sido atribuídas mais de 100 mortes em todo Nordeste e chegou a ser capa da Revista IstoÉ. Fonte: Rostand Medeiros.
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